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HISTÓRIA Prólogo da minha história - Alexandria


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Alexandria

 

"Brinque com sua imaginação enquanto lê; da mesma maneira que brinquei com as palavras enquanto escrevia."

 

O vento corrente continuava.

Passava pela janela e pela escuridão do quarto adentro. O barulho contínuo da janela batendo contra a parede do quarto perturbava meu sono.

O mormaço vinha através da espreita da noite, passava por todo meu escuro quarto e delirava todos meus sonhos enquanto eu dormia. D'baixo de três cobertas, meu corpo suava, minha pele estava aos prantos enquanto eu me sentia pegando fogo.

De repente, de súbito, meus olhos esverdeados se abriram em meio ao escuro. Um tanto vermelhos pela falta de sono.

Analisei o que estava acontecendo e, logicamente, me dei conta que isso era tudo muito estranho. O celular próximo a mim apontava três horas da madrugada, e porque diabos a janela do quarto está aberta?

Todos os músculos do meu corpo reclamaram quando fiquei afrente da janela, sem camisa, absorvendo todo o calor que a escuridão reservava para mim. Observando o clima, me dei conta que em instantes um grande temporal iria cair sob a cidade. Relâmpagos brilhantes vinham e iam, percorrendo todo o céu. Como se um velcro escuro estivesse apagando todas as estrelas da noite, e trovões rugiam ao longe. Era um verdadeiro e incrível relapso do apocalipse.

Porém, mais estranho que isso tudo, era atravessar o quarto com o olhar, procurando por algum sinal dela, e não encontrar nenhum. Ela não veio para casa esta noite. Isso é perturbador, há um gigantesco temporal se aproximando, e ela não está aqui. Não está.

Tentando recuperar-me da sensação do vazio, vou ao banheiro e passo uma água por todo meu rosto. Olhando pelo espelho e encarando meu próprio reflexo, observando meus cabelos cacheados todos desgrenhados e esparramados aleatoriamente pelo rosto. Raios iluminavam todo o banheiro de segundos em segundos, seguidos de seus pavorosos impactos sobre o solo da cidade. Poderia jurar que sentia o chão tremer a meus pés.

Então, ainda olhando pelo espelho, um último raio percorreu e ascendeu por todo o banheiro. Um flash de luz brilhante, que durou milésimos, mas milésimos suficientes para vê-la.

Ela, sim, ela.

Estava ali. Eu a vi.

Tenho certeza.

Como se meu cérebro tivesse tirado uma foto borrada daquele flash de luz em milésimos de segundos, eu a vi logo atrás de mim, totalmente encobrida pela escuridão da noite e, então, não estava mais.

Sumira tão rápido.

Como?

- Mary! Mary! – Gritava por seu nome, enquanto eu saia correndo do banheiro, passando pela cozinha e chegando ao longo e escuro corredor da casa, que ligava à porta de saída. Agora, aberta.

Ao mesmo tempo que eu encarava a escuridão afora da porta, meu cérebro travava uma batalha comigo para que eu não seguisse em frente.

Parei.

Sim, parei em meio ao escuro corredor.

Sabe por que? Por que ela estava lá fora, do outro lado da porta, dentro da escuridão, me encarando. Eu podia senti-la, mesmo que eu não pudesse vê-la. Seu calor era algo nada natural, e disso eu sabia. Ela estava me encarando agora mesmo, com seus lindos olhos castanhos. Sei disso, posso sentir. Aqueles olhos ardentes e seduzentes, que me dão saudades sempre que estão longe de mim. Mas eu posso senti-los olhando em minha direção agora. Posso sentir aquele calor...

Sempre pude.

Logo, um raio com um forte estrondo me deu a resposta que eu já sabia.

Ascendendo por todo o corredor, pude vê-la, a metros de mim. Mesmo que por pouco tempo, pude fixar meus olhos em seus lindos cabelos loiros totalmente bagunçados, e em sua cara de espanto.

- Mary, o que há? Está tudo bem... por que está correndo de mim? – Tentei disfarçar meu nervosismo o máximo que pude, fazendo uma voz tão suave que nem mesmo eu poderia reconhecer. 

Então, um forte barulho árduo e contínuo começou a preencher todos os cantos da casa. Sons de fortes gotas de água se chocando sobre as telhas da casa resultavam em um barulho totalmente ensurdecedor.

A forte chuva tinha dado suas caras.

Seguidos por inúmeros raios, que dessa vez me deram uma resposta que fez meu corpo ter calafrios que seguiram por todo meu corpo.

O corredor se iluminara, e ela não estava mais lá.

Em instantes, como se um piloto automático tivesse tomado conta de minhas ações, só me dei por conta que estava correndo quando parei na frente da minha casa. D’baixo da chuva, olhando em todas as direções da deserta rua.

Esquerda, nada.

Direita, nada.

- Socorro! – Ouvi ao longe, um grito fraco e um pouco rouco. Seguido da direção da mata logo a minha frente.

Nesse exato momento, pude sentir meu cérebro liberando adrenalina por todo meu corpo, percorrendo pelo meu sangue e contraindo todos os meus músculos. Era tudo que faltava para meu corpo entrar no piloto automático de novo. Meu raciocínio lógico deu adeus às minhas ações e ao controle do meu corpo.

Corri como nunca na minha vida, atravessei a rua descalço. Sentia o vento tocar todo meu corpo, causando calafrios. Minha visão estava embaçada, podia sentir e se alguém duvidasse poderia contar as inúmeras gotas de chuva que passavam por meus cílios.

Desviei de todas as árvores da mata a minha frente, em uma velocidade implacável. Seguindo os gritos de socorro, agora mais distantes.

O que diabos estava acontecendo?

Os gritos ficavam mais e mais distantes.

Aumentei a velocidade do meu corpo, a essa altura eu poderia disputar uma corrida com um relâmpago.

A escuridão da mata não me deva nenhuma resposta. Estava tudo tão vazio e escuro.

- Mary! – Eu gritava continuamente e desesperadamente com todas as forças do meu corpo, enquanto minhas pernas não paravam de se mexer. Logo pude sentir o barro passando por meus pés, diminuindo minha velocidade.

Corri mais e mais, mais e mais. E então me dei por conta que não havia mais gritos. Parei  ali, no meio da mata. Olhando para todos os lados, sem fôlego.

Eu estava com medo, e isso dificulta tudo. Eu estava praticamente sem visão alguma.

Tudo estava embaçado, como se uma chata e estranha brisa insistisse em fixar-se sob meus olhos.

Ignorei-a completamente. Comecei a correr novamente da direção de onde os gritos vinham. Me senti correndo pelo próprio limbo, era tudo tão vazio e o silêncio estava perturbando minha cabeça.

A saída da mata estava logo a minha frente.

Passando pelas últimas árvores me dei conta do meu erro. Do porquê de ter perdido a direção de seus gritos. Estava tudo tão confuso, o mundo estava girando ao meu redor.

Eu estava em frente à minha casa, novamente.

Olhei para a esquerda, nada.

Para a direta, espere...

A luz do poste estava piscando.

Segui caminhando em sua direção sem o menor de receio de algum iminente perigo.

D’baixo da chuva, já considerava o vento como meu melhor amigo. Meu corpo estava todo coberto pela chuva, e enquanto caminhava em direção ao estranho poste, meus olhos encaravam o estranho beco logo à espreita da rua, ao lado do poste que falhava.

Parei de súbito.

Novamente, aquele calor...

Ah, aquele calor. Eu podia senti-lo novamente.

Ali.

Dali.

Ela estava atrás da escuridão novamente? Mas... por que?

- Mary? O que diabos você está fazendo, Mary? – Falei, sem controlar minha voz, expus todo meu nervosismo, quase gaguejando. – Pare com isso, Mary. Por favor, você está me assustando...

Eram laços de paixão muito fortes, emaranhados através da escuridão, conectando nossos olhares. Ah, aqueles olhares dela. Possos senti-los agora mesmo.

Eu sei que estou olhando para ela.

Eu sei que ela está olhando para mim.

De repente, como se uma tesoura tivesse cortado todos os fios da conexão, um relâmpago totalmente emergente disparou e cobriu todo o céu, causando o maior estrondo que eu poderia ouvir por anos. Como se quisesse anunciar o apocalipse, e tivesse total certeza que conseguiria trazê-lo.

O flash de luz transbordou por toda rua, o tremendo temporal acima de mim e os sons da árdua chuva rescindiram por segundos, e foram voltando ao normal com o tempo, até que eu me desse por conta que estava onde estava. Ali, onde parei de raciocinar por segundos, após senti-la.

O cenário mudara.

O pavor tomou conta lentamente de mim. Subiu através de calafrios por minha pele, dos pés à cabeça. A adrenalina, até então à flor da pele, reduziu-se às cinzas.

Com os olhos ainda fixados na escuridão do beco, a única coisa que iluminava meu corpo agora era a luz do poste que piscava logo acima de mim.

Em um instante, todas as luzes dos postes da rua começaram a falhar. Piscavam rapidamente.

O vento cobriu todo meu corpo como um véu de pavor que se espalhara ao meu redor.

Eu estava totalmente gelado.

Podia sentir as gotas de chuva escorrendo pela minha pele e contar, uma por uma.

Pois, ali.

Logo ali, na escuridão.

Não havia mais ela, não havia mais o conforto que o calor dela transmitia para mim. Minha alma estava em apuros, não conseguia mais enxergar no escuro, aquilo que o amor havia enxergado por mim.

Agora...

Haviam dois enormes olhos vermelhos, me encarando.

Me observando.

Olhos de uma coisa inumana, totalmente preenchidos por uma luz vermelha, que,  se realmente fossem de algo do mal, poderiam iluminar o inferno por inteiro.

Eles podiam engolir-me completamente somente com seu olhar.

Fiquei ali, durante segundos, paralisado de medo, encarando aquilo que seja lá o que for. Mas não era nada que eu já tivesse visto na minha vida.

As luzes continuavam piscando e, de repente, como se o colapso da escuridão viesse à tona através da meia noite, a última luz que pude ver fora as dos relâmpagos no céu.

Enquanto todas as luzes da rua se apagavam.

E a escuridão me engolia para dentro dela.

 

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